Não vou discutir a metodologia do que chamam “agricultura biológica”. Aliás, uma parte desses princípios ensinei-os, durante anos, aos alunos dos cursos de engenharia agronómica, pois constituem normas gerais a aplicar em qualquer agricultura. Não discuto, mesmo, alguns aspectos de exageros, apenas lembrando que, se a investigação agronómica não tivesse tido o desenvolvimento que teve, grande parte da população do mundo já teria morrido de fome. As carências e a fome que existem em vários pontos do globo são apenas o resultado da acção de maus políticos( 1). Quero apenas chamar a atenção para o ridículo nome de “agricultura biológica” que sugere que quem o usa dá a ideia de que não sabe o que é agricultura nem biologia.
Na realidade, enquanto as fábricas não fizerem couves sintéticas e bifes sintéticos, TODA a agricultura é biológica. Os produtos da agricultura, sejam vegetais ou animais, são sempre seres biológicos. Se a aplicação de alguns compostos de síntese faz com que uma planta ou um animal deixem de ser biológicos, qualquer pessoa que tenha tomado uma aspirina deixa de ser “biológica”! Na Europa a designação de agricultura biológica é usada por alguns países (entre os quais Portugal) que não devem ter reparado no ridículo dessa designação. Alguns outros, como a Inglaterra, usam o nome, também errado, de “agricultura orgânica”. É óbvio que uma couve, cultivada num solo que foi fertilizado com sulfato de amónio, não passou a ser mineral. Continua a ser orgânica.
Um nome mais aceitável será “agricultura ecológica”, usado nalguns países europeus, já que esse tipo de agricultura se aproxima mais das condições ecológicas da natureza. Muitas vezes lembrei aos meus alunos que fazer agricultura é orientar a ecologia – algo que está em constante mutação – no sentido quemais interessa ao homem. Seria bom que Portugal corrigisse esse erro generalizado, para não dar a ideia de que os portugueses não sabem o que é um ser biológico.
Miguel Mota