Semanário Regionalista Independente
Domingo Dezembro 3rd 2023

Estátua de D. Fernando II no Ramalhão

História Local – Estátua de D. Fernando II no Ramalhão

Proteger e preservar

Idalina Grácio de Andrade

D. Fernando II

D. Fernando II

Esta estátua foi criada por iniciativa do Jornal de Sintra, com pro­je­cto do escultor e cola­borador deste semanário, Pedro Anjos Teixeira e apoio de José Alfredo da Costa Azevedo, enquanto presi­dente da Co­mis­são Adminis­trativa da Câ­mara Municipal de Sintra. A estátua foi, inaugurada em 28 de Junho de 1975.

Na inauguração esti­veram figuras da cul­tura, representantes da Comissão de Moradores do Bairro de Chão de Meninos, e a população local, assim como  re­pre­sentantes dos Bom­­beiros, dos Alia­dos e do 1.º Dezembro

Recordamos esta ini­ciativa e lembramos uma vez mais a figura ímpar de Fer­nando Augusto Fran­cisco António de Saxe-Coburgo-Gotha-Koháry que na estátua está a olhar a sua “Serra de Sintra” que ele ajudou a crescer.

A estátua colocada no Ramalhão – Sin­tra é um símbolo perfeito de D. Fer­nando II, o rei ar­tista, que no seu percurso por Portugal marcou as ciências e a cultura do reino.

Sintra foi o local onde deixou as maiores marcas da sua ampla cultura.

José Alfredo da Costa Azeve­do, no dia da sua inauguração (28 de Junho de 1975, em que participaram figuras sintren­ses da época e a população lo­cal a ele se referiu do modo seguinte:

(…)

Traçando o perfil humano e artístico e político daquele monarca que, mais do que isso (reinou acidentalmente, durante dois anos – 1852-1855 –, como regente, após a morte de sua mulher, D. Maria II, enquanto o seu filho, D. Pedro V, não atingiu a maiori­dade), foi amador e protector das Artes, que também culti­vou com mérito, rejeitando al­guns tronos estrangeiros que lhe foram oferecidos, entre os quais o da Grécia.

Marido e pai amantíssimo, foi sempre, com sua mulher, ve­ne­rado pelos mais arden­tes adversários do trono, apesar de atravessar uma época conturbada por inces­santes lutas civis, pois os partidos políticos não com­preendiam (a história repe­te-se) os ver­dadeiros prin­cípios liberais e guerreavam-se com cega violência.

São desse período as revol­tas militares que se sucediam ininterruptamente e manti­nham o país em permanente guerra civil. A revolução de Setembro, a Belenzada (1826), a revolta dos marechais (1837), os motins do Arsenal, o governo tirâ­nico e opressor de Costa Cabral, a revolução da Maria da Fonte (1846), a revolta de Saldanha (1851) e a reforma da carta Cons­titu­cional (1852), que resta­bele­ceu, enfim, a concórdia entre os portugueses, foram os fa­ctos mais culminantes dessa época, em que reinou a vir­tuosa e enérgica Rainha D. Maria II, que encontrou sempre, em seu marido, D. Fernando II, o seu maior amparo.

O Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Sintra, José da Costa Azevedo

O Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Sintra, José da Costa Azevedo

José Alfredo focou, também, as circunstâncias em que se encontrava a estátua agora inaugurada, metida num barracão, entre madeiras e ferros, a deteriorar-se, em parte porque não tinha havido acordo quanto ao local onde devia ser implan­tada (que em princípio, acres­centamos nós, tinha sido sempre aquele em que hoje está), e ali se quedava já há alguns anos.

Foi assim que a mandou retirar do armazém onde esta­va, em risco de ser destruída, pois, além do mais, aquela obra fora feita com o dinheiro do povo, através da amorosa devoção do seu autor, seu querido amigo e condiscípulo Pedro Anjos Teixeira, e o dinheiro do povo não pode nem deve ser empregue em coi­sas para destruir, tanto mais que a D. Fernando II Sin­tra muito deve e os liberais também.

A sua tolerância era tal – con­tinuou o orador – que, tendo sido encontradas, na Serra de Sintra, ossadas de cristãos e sarracenos, mas não se poden­do distinguir umas das outras, mandou fazer, junto da chamada mesquita, próximo do Caste­lo dos Mouros, um grande sarcófago, que enci­mou com a cruz dos cristãos e o crescente dos sarracenos, lado a lado.

Inauguração do monumento a D. Fernando II em 28-6-1975 com José Alfredo e António Medina Júnior, entre outros

Lamentou ainda que alguns levassem o seu demagogismo a insurgir-se contra a co­loca­ção da estátua, pois, segun­do afirmou, fundamen­taram-se em que o Palácio, tão famo­so, e o Parque, tão belo e fron­doso, que D. Fer­nando man­dou  construir sobre o velho Convento dos Frades Jeróni­mos, que adquiriu, a expensas suas, situado num dos pínca­ros da majestosa serra e nas suas encostas – Palácio e Par­que da Pena –, foi para ele e não para o povo. Mas ele, retor­quiu, e ali afirmava, que, se D. Fernando não o tivesse construído, o povo, Sintra e o País hoje não sentiam o grande prazer de o ter. E, nesta batalha em que todos estamos empenhados, é bom não esquecer que o Palácio e o Parque da Pena são dos mais convincentes e famosos cartazes turísticos de Portu­gal, e Portugal precisa de turismo…

(…)

O mestre canteiro Etelvino Veríssimo  executou a estátua, sob a direcção do seu autor, o distinto escultor Pedro Augusto Anjos Teixeira.

Publicado no Jornal de Sintra, ed. 4367 de 26 novembro de 2021.

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