História Local – Estátua de D. Fernando II no Ramalhão
Proteger e preservar
Idalina Grácio de Andrade
- D. Fernando II
Esta estátua foi criada por iniciativa do Jornal de Sintra, com projecto do escultor e colaborador deste semanário, Pedro Anjos Teixeira e apoio de José Alfredo da Costa Azevedo, enquanto presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Sintra. A estátua foi, inaugurada em 28 de Junho de 1975.
Na inauguração estiveram figuras da cultura, representantes da Comissão de Moradores do Bairro de Chão de Meninos, e a população local, assim como representantes dos Bombeiros, dos Aliados e do 1.º Dezembro
Recordamos esta iniciativa e lembramos uma vez mais a figura ímpar de Fernando Augusto Francisco António de Saxe-Coburgo-Gotha-Koháry que na estátua está a olhar a sua “Serra de Sintra” que ele ajudou a crescer.
A estátua colocada no Ramalhão – Sintra é um símbolo perfeito de D. Fernando II, o rei artista, que no seu percurso por Portugal marcou as ciências e a cultura do reino.
Sintra foi o local onde deixou as maiores marcas da sua ampla cultura.
José Alfredo da Costa Azevedo, no dia da sua inauguração (28 de Junho de 1975, em que participaram figuras sintrenses da época e a população local a ele se referiu do modo seguinte:
(…)
Traçando o perfil humano e artístico e político daquele monarca que, mais do que isso (reinou acidentalmente, durante dois anos – 1852-1855 –, como regente, após a morte de sua mulher, D. Maria II, enquanto o seu filho, D. Pedro V, não atingiu a maioridade), foi amador e protector das Artes, que também cultivou com mérito, rejeitando alguns tronos estrangeiros que lhe foram oferecidos, entre os quais o da Grécia.
Marido e pai amantíssimo, foi sempre, com sua mulher, venerado pelos mais ardentes adversários do trono, apesar de atravessar uma época conturbada por incessantes lutas civis, pois os partidos políticos não compreendiam (a história repete-se) os verdadeiros princípios liberais e guerreavam-se com cega violência.
São desse período as revoltas militares que se sucediam ininterruptamente e mantinham o país em permanente guerra civil. A revolução de Setembro, a Belenzada (1826), a revolta dos marechais (1837), os motins do Arsenal, o governo tirânico e opressor de Costa Cabral, a revolução da Maria da Fonte (1846), a revolta de Saldanha (1851) e a reforma da carta Constitucional (1852), que restabeleceu, enfim, a concórdia entre os portugueses, foram os factos mais culminantes dessa época, em que reinou a virtuosa e enérgica Rainha D. Maria II, que encontrou sempre, em seu marido, D. Fernando II, o seu maior amparo.
José Alfredo focou, também, as circunstâncias em que se encontrava a estátua agora inaugurada, metida num barracão, entre madeiras e ferros, a deteriorar-se, em parte porque não tinha havido acordo quanto ao local onde devia ser implantada (que em princípio, acrescentamos nós, tinha sido sempre aquele em que hoje está), e ali se quedava já há alguns anos.
Foi assim que a mandou retirar do armazém onde estava, em risco de ser destruída, pois, além do mais, aquela obra fora feita com o dinheiro do povo, através da amorosa devoção do seu autor, seu querido amigo e condiscípulo Pedro Anjos Teixeira, e o dinheiro do povo não pode nem deve ser empregue em coisas para destruir, tanto mais que a D. Fernando II Sintra muito deve e os liberais também.
A sua tolerância era tal – continuou o orador – que, tendo sido encontradas, na Serra de Sintra, ossadas de cristãos e sarracenos, mas não se podendo distinguir umas das outras, mandou fazer, junto da chamada mesquita, próximo do Castelo dos Mouros, um grande sarcófago, que encimou com a cruz dos cristãos e o crescente dos sarracenos, lado a lado.
Lamentou ainda que alguns levassem o seu demagogismo a insurgir-se contra a colocação da estátua, pois, segundo afirmou, fundamentaram-se em que o Palácio, tão famoso, e o Parque, tão belo e frondoso, que D. Fernando mandou construir sobre o velho Convento dos Frades Jerónimos, que adquiriu, a expensas suas, situado num dos píncaros da majestosa serra e nas suas encostas – Palácio e Parque da Pena –, foi para ele e não para o povo. Mas ele, retorquiu, e ali afirmava, que, se D. Fernando não o tivesse construído, o povo, Sintra e o País hoje não sentiam o grande prazer de o ter. E, nesta batalha em que todos estamos empenhados, é bom não esquecer que o Palácio e o Parque da Pena são dos mais convincentes e famosos cartazes turísticos de Portugal, e Portugal precisa de turismo…
(…)
O mestre canteiro Etelvino Veríssimo executou a estátua, sob a direcção do seu autor, o distinto escultor Pedro Augusto Anjos Teixeira.
Publicado no Jornal de Sintra, ed. 4367 de 26 novembro de 2021.