Semanário Regionalista Independente
Terça-feira Setembro 23rd 2025

“BBC – As Crónicas de TV”

Uma semana de ir às lágrimas
Bernardo de Brito e Cunha

ERAM OITO DA NOITE de domingo quando arrancou o Jornal das 8 da TVI, o que não deixa de ser coerente. E arrancou com Judite de Sousa no comando das operações, e a dar a grande notícia do dia, a de que o Vitória de Guimarães conquistara a Taça de Portugal referente a este ano e logo ao Benfica. As fotos não falam, mas esta que aqui aparece ao lado documenta o momento em que Judite pronuncia exatamente aquelas palavras – por muito que aquela irritante legenda insista em contradizê-la. A legenda deve ter sido escrita por um zeloso trabalhador da TVI que, certamente crente no potencial dos encarnados, decidiu ir adiantando serviço. Mas, caramba!, desde as 19h25 ou 19h30 que se sabia o resultado do jogo do Jamor até em Queluz de Baixo, como se prova pelas sábias palavras de Judite de Sousa! O que terá levado aquele tão zeloso trabalhador a não ir, pressuroso, apagar a palavra “Benfica” e escrever em seu lugar a palavra “Guimarães” é uma coisa que me transcende. Talvez a esperança de que a Federação acreditasse mais num rodapé da TVI do que no resultado do jogo?

NESSE MESMO DOMINGO, um pouco mais tarde, a SIC estreou um programa novo. Chama-se Splash Celebridades e temos de concordar que só o nome mete medo. Como se isso não bastasse, a apresentá-lo estão Júlia Pinheiro e Rui Unas, com este último a cair, por mais que uma vez, na graçola ordinária, o que não deixa antever nada de bom para os programas futuros. Aquele programa, transmitido em direto de uma piscina, poderia com boa vontade fazer algum sentido nas tardes de Verão, no sábado ou ao domingo. Mas à noite? Para combater o Big Brother ou Casa dos Segredos, ou lá que nome tem aquilo? Mas não há ninguém em Carnaxide que pense nestas coisas? A programação é o que houver assim mais à mão e todas as ideias são maravilhosas? Por amor de Deus! Por aqui se vê como Pinto Balsemão está envelhecido e já muito desligado dos seus projetos, até mesmo da “menina dos seus olhos”, que era a SIC. Ele próprio já nem deve ver o seu próprio canal…

NO DIA SEGUINTE, depois de termos visto coisas “espantosas”, é claro que a estação veio anunciar que um milhão e 200 mil pessoas tinham estado a ver a coisa. Desse número, tudo porque as audiências ainda não medem essas minudências, o canal não foi capaz de quantificar quantos tinham ficado toda a duração do programa de queixo caído e ar embasbacado, mas não devem ter sido poucos. Quem, no seu perfeito juízo, fica a ver José Castelo Branco a subir à prancha de uma piscina em bicos de pés? E depois muitos se admiram que os canais de cabo, o vídeo e os jogos abarquem já um terço do share de audiências…

A MENINA que, na TVI, apresenta o sorteio do Euromilhões é uma pirosa de primeira água. Pirosa mesmo, coisa que se lhe vê na cara. Depois, como se não bastasse esse problema genético ou coisa que o valha, ainda a vestem e penteiam a condizer com a cara que tem. Pode parecer coerente, mas um fatinho simples talvez melhorasse o aspeto geral: mas não, vá de calcar e tornar a miúda ainda pior… Como se não bastasse, a jovem é um misto de apresentadora e de menina do quadradinho para a linguagem gestual. Quando ela diz “Vamos conferir o seu palpite”, aponta com a mãozinha para nós… Se não fosse triste, até era capaz de dar para rir.

HÁ DEZ ANOS ESCREVIA
«Falemos então da “Operação Triunfo”. De uma forma geral, pode dizer-se que esta operação da RTP foi, efectivamente um triunfo. Embora isso não se tenha reflectido propriamente em conquistas de audiência – a Gala dos domingos raramente conseguiu melhores resultados do que o “Herman SIC”, por exemplo –, a verdade é que em termos de salto qualitativo, este programa representou um grande passo para a estação pública. É preciso entender que, no contexto da televisão que vamos tendo, a “Operação Triunfo” era um programa, por assim dizer, “bom de mais”: com efeito, para um público que já se perdeu de amores por um “Big Brother” e por toda a série de telenovelas de produção nacional a que temos assistido, seria muito complicado, de repente, voltar-se de alma e coração para um programa bem feito, com boas músicas e por aí fora. Principalmente era difícil que esse mesmo público, que se deliciara com as sessões casamenteiras e sexuais das terças-feiras com Teresa Guilherme, se entregasse a um programa que não tivesse essas componentes que fizeram o sucesso de “Big Brother”.»
(Este bloco respeita a grafia em uso no ano em que foi escrito.)

Crónica publicada no Jornal de Sintra, ed. 3983 de 31 de Maio de 2013

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