Semanário Regionalista Independente
Quinta-feira Março 28th 2024

“BBC – As Crónicas de TV”

Esperar uma década vale a pena

Bernardo de Brito e Cunha

 

Há alguns dias, quando corria os canais da televisão, dei comigo perante o programa de Herman José Cá por Casa. O programa, a bem dizer, não deveria ser de Herman José, o mais correcto seria dizer Herman & Companhia, dado que são os companheiros que dão um apimentado muito novo à série de emissões.

 

Essa Companhia não nos é completamente desconhecida, uma vez que já vimos esses actores/humoristas num ou noutro programa. Falo dos clássicos Joaquim Monchique, Maria Rueff ou Manuel Marques, aos quais é preciso juntar Eduardo Madeira e Joana Pais de Brito. Se é verdade que são os talentos individuais que fazem a grande diferença, convém não esquecer os textos e as rubricas criadas desde que vi o programa pela última vez. É que agora, o programa dedica as suas rubricas a glosar os programas da concorrência: assim, a Passadeira Vermelha da SIC, passa aqui a ser a Arrastadeira Vermelha, com Joaquim Monchique a fazer uma magnífica Liliana Campos e Herman na pele de Nuno Azinheira e Maria Rueff no de Joana Latino…

 

O Prós & Contras, deu origem a um Prós dos Contras, em que tínhamos como (improváveis) convidados Ljubomir Stanisic, de quem Eduardo Madeira vestiu a pele, com imensas tatuagens, ou o comentador desportivo Rui Santos, que Manuel Marques encarnou. Mas, do outro lado da mesa, estava Graça Freitas da DGS (Herman) e a Ministra da Saúde Marta Temido, a que uma notável Joana Pais de Brito deu voz e corpo.

 

Joana Pais de Brito, de resto, faz tudo o que seja imitação – mas principal e gritantemente Cristina Ferreira. Parece que se especializou na apresentadora, parece que tem um gosto especial em pôr-se-lhe na pele. E fá-lo com grande categoria. Mas não se pense que Joana Pais de Brito está ali apenas para a gritaria e para o escabeche: a Marta Temida a que deu corpo e voz, era a imagem do imperturbável e da calma absoluta.

 

Mas o Cá por Casa não se fica pelos canais generalistas e invade o terreno da CMTV, nomeadamente com o sketch que dedica a Maya e a que chama Abelhuda Maya… Aqui, a Maya que lança cartas é Manuel Marques, mas este será talvez, o segmento mais pobre. Quem sabe se por as presenças em cena serem figuras já muito conhecidas: o Esteves (Herman José) e o Manel Taxista, ferrenho do Benfica (Maria Rueff).

 

Mas não se pode ignorar a transformação que se operou no casal Nelo e Idália, transformado num par que a pandemia separou. Chama-se aqui Diários de uma Quarentona (óptimo nome!) e os dois estão separados, comunicando apenas por chamadas com vídeo. Foi um passo muito conseguido para um casal que tinha (e mantém) muita graça. Leia-se, a propósito de Herman, o que escrevia a seu respeito na caixa Há Dez Anos Escrevia. Às vezes vale a pena esperar uma década…

 

A minha busca por séries policiais não tem dado grandes resultados: Candice Renoir chegou e partiu, com um trago amargo no final, e o que se encontra são, regra geral, séries requentadas que já vi há tempos. Uma tristeza, portanto. Mas soube que, por estes dias, vai regressar a última temporada de uma série de que gostei muito: Elementar. Como sabem os que me lêem, são as histórias de Sherlock Holmes, com a diferença de que se passa em Nova Iorque e nos dias de hoje, mas também na circunstância de o Dr. Watson… ser uma mulher.

 

HÁ DEZ ANOS ESCREVIA

 

«Fui ver, por curiosidade, a “rentrée” do programa de Herman José, só para tirar dúvidas quanto a possíveis (e necessárias) alterações: nem uma. Pelo contrário. Nem sequer foi capaz de se manter fiel ao “spot” que gravou a anunciar o regresso e em que, à maneira de um treinador de futebol, com camisola e tudo, nos vinha dizer qual seria a táctica. Esta seria, segundo o tal “spot”, um 5-3-2: isto é, cinco músicos, três convidados e dois sketches. As duas primeiras, cumpriu, embora com um óbvio sentido de favor: que diabo fazia ali António Costa, presidente da Câmara de Lisboa?»

(Esta crónica, por desejo expresso do seu autor, não respeita o novo Acordo Ortográfico.)

Crónica publicada no Jornal de Sintra, ed. 4312 de 2 de Outubro de 2020

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