Semanário Regionalista Independente
Terça-feira Abril 30th 2024

“BBC – As Crónicas de TV”

Jesus ressuscitado – ou nem tanto assim

Bernardo de Brito e Cunha

Basta pensarmos, por uma ordem completamente aleatória, em Donald Trump e nas suas tontices diárias, no que foi acompanhado, durante muito tempo, pelo Kim da Coreia; no que se passa na Síria de Bashar al-Assad, mais que aparentemente com a ajuda da Rússia e do Irão, e os ataques recentes a zonas já tão massacradas, desta vez com gás Sarin e cloro; o envenenamento de um espião duplo de origem russa e sua filha em Solisbury, Inglaterra; ou ainda da ascensão cada vez mais fortalecida da extrema-direita nas eleições da Hungria; ou na tentativa de genocídio do grupo étnico rohingya que pratica o islamismo na Birmânia, e ainda mais a fome generalizada e a falta de água que (já) se faz sentir em muitas zonas do globo. E pensando nisso, não me parece que num momento como este que acima se descreve (e trata-se de um resumo pequenininho, já que fica de fora, entre outros, o conflito antigo da Palestina e as notícias recentes da morte pelos israelitas de um fotojornalista, que o respeito não impera para aquelas zonas) em que o Planeta e o Homem atravessam problemas seriíssimos, não me parece, dizia, que se possa perceber a razão por que os telejornais portugueses têm iniciado as suas emissões com esse problema candente que é a crise no Sporting e as tontices (outro que tal) de Bruno de Carvalho.

É que, não o esqueçamos, o Sporting tem, ao que parece, 160 mil sócios. Terá simpatizantes, claro, como todos os clubes – mas que não têm direito a voto, ou melhor dizendo, não têm voto na matéria. É certo que, quando um dos três grandes começa a ficar diminuído, o problema afecta todo a país a nível do futebol europeu. Mas a que ponto? Um pontinho muito pequeno. Não estamos a falar da final da Liga dos Campeões contra, por exemplo, o Real Madrid. Nada disso. O ponto da questão é que Bruno de Carvalho, depois do jogo com o Atlético de Madrid que o Sporting perdeu por 2-0, teceu críticas à equipa e individualizou os erros. Por escrito. Por muito verdadeiro que fosse aquele post do Facebook, a verdade é que aquele não era o local apropriado para tecer críticas e os jogadores sentiram-se tocados. E vai daí respondem pelo mesmo meio. Que faz Bruno de Carvalho? Decide suspender todos os 19 jogadores que levaram à letra o ditado “quem não se sente não é filho de boa gente” o que deixou o jogo a realizar em 36 horas com sérias dúvidas sobre quem poderia ser seleccionado.

Só para terminar este assunto da treta, que suspendeu, des-suspendeu, eu sei lá! É mais ou menos unânime a opinião de que Jorge Jesus se portou bem, ao deitar água na fervura. Não me parece: uma posição mais forte, de união aos jogadores e acompanhada de um pedido de demissão imediato, teria resolvido todas as questões. Bruno de Carvalho, que já prometeu tanto, desde 2013, não teria outro remédio que não fosse demitir-se. E a Jorge Jesus não faltariam ofertas de trabalho. O dinheiro falou mais alto?

Para mim, o grande defeito de “Got Talent Portugal” é a miríade de artistas e disciplinas que por ali passam. Quando vejo o “The Voice”, sei ao que vou: ouvir cantar. Mas aqui não: posso ver palhaços, canto, prestidigitadores, equilibristas com ou sem arame (mas sem rede), etc. E essa variedade deixa-me insatisfeito: como qualquer pessoa que assiste aos Jogos Olímpicos, gostaria de “comprar bilhetes” para as modalidades que me interessam mais. E o “GTP” é mais ou menos como se me tivesse enganado e, em vez de um bilhete para assistir à Maratona, tivesse comprado um outro para a final de curling. E isto não diminui nem o curling, aquela modalidade em que uns “varredores” limpam o caminho a uma bola (mais ou menos) de granito, nem sequer as disciplinas que passam pelo “GTP” – é apenas uma questão de gosto.

HÁ DEZ ANOS ESCREVIA

«É a velha história do “quem não sabe ganhar, não saberá ser bom perdedor”. E aconteceu que, no próprio sábado, ainda antes do jogo e durante a inauguração de uma das Casas do clube, em S. João da Madeira, a SIC Notícias transmitiu uma parte do discurso do presidente. E, mais uma vez, Pinto da Costa primou pela jactância e prometeu que o Porto vai continuar a vencer e não poupou adjectivos quando falou dos adversários: “No meio da nossa euforia, da nossa grande vitória, no meio do grito campeões, vamos ignorá-los, com o desprezo que merecem os vermes, com o desprezo que merece quem não presta, com o desprezo de quem faz do ódio a sua razão de viver. Nós vamos ganhar e continuar a ganhar.”»

(Esta crónica, por desejo expresso do seu autor, não respeita o novo Acordo Ortográfico.)

Crónica publicada no Jornal de Sintra, edição de 13 de Abril de 2018.

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