Semanário Regionalista Independente
Domingo Maio 5th 2024

“BBC – As Crónicas de TV”

Coisas sérias, graçolas e muita cantiga

Bernardo de Brito e Cunha

Julgo que a TVI24 deve estar muito satisfeita com a transposição do programa “Governo Sombra” da sua versão radiofónica via TSF para os pequenos ecrãs, por volta das 23h50 de sábado, mantendo-se a emissão radiofónica na TSF, a horas diversas correspondentes a outras tantas repetições. A circunstância de, na rádio o programa ocupar o primeiro lugar entre os mais ouvidos, deve ficar a dever-se ao facto dessa repercussão que já vem da rádio, se terá reflectido na televisão. Só que para ver aqueles quatro (“em pessoa”, mesmo que no ecrã do televisor), que querem, gostavam de poder mas não mandam nada, se torna necessário ter uma assinatura de televisão por cabo. O concurso para mais três (alguns falam em quatro) canais na TDT é que não avança, porque acredito que a TVI24 certamente se candidatará a uma dessas posições. Mas, como o Parlamento ainda não definiu a constituição do novo conselho regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), que decide a atribuição de licenças, isso terá de ficar para mais tarde.

O “Governo Sombra”, não tenho problemas em dizê-lo, tem-me mostrado muito do estado do país e do mundo. E, acredito, a muitos dos 300 mil espectadores que seguem o programa – números estimados, que isto da televisão por cabo ainda não funciona lá muito bem. Nesta altura já muitos estarão a comentar: “Não admira este relambório, toda a gente já percebeu há muito que ele é fã de Ricardo Araújo Pereira…” e isso é absolutamente verdade, embora o seja, também, de mais um ou dois intervenientes no programa. Mas há uma razão para isso: para além do óbvio talento e da graça, temos de reconhecer que RAP faz o seu trabalho de casa, como de resto ficou provado com o caso dos cadernos da Porto Editora para meninos e meninas, passando um tremendo atestado a Rita Ferro Rodrigues, que levantara a questão – mas sem se dar ao trabalho de comparação total a que RAP se deu… E preparem-se os que tiverem TVI24: o programa de amanhã promete, uma vez que a Rita se juntou agora, numa outra campanha versus RAP, a jornalista Fernanda Câncio. E eu que só vou ver no domingo…

Assisti à estreia, no último domingo, na SIC, do programa “D’Improviso” de César Mourão. Para quem conhece o percurso do actor, terá reconhecido que o programa é uma versão daquilo que o actor faz no palco e até mesmo na rádio – o que não retira nada à graça que o actor tem e que transmite aos trabalhos que faz. E diverti-me com esta estreia e com a capacidade de César Mourão (e até de alguns dos intervenientes) em improvisar. Não garanto que passe a ser um cliente assíduo, pela simples razão que suspeito que haverá ali muito “baralha e torna a dar”, semana após semana. Mas que voltarei à SIC, ao domingo à noite, uma vez por outra, não tenho dúvidas. Até porque, quando falei com César Mourão, há uns meses, ele me confessou que achava que o humor na televisão morrera um pouco: que hoje em dia, o humor é posto meio camuflado nas telenovelas, e que esperava que isso fosse passageiro e que a Televisão voltasse a apostar no humor. E conseguiu mesmo essa lança em África!

Não sou muito de seguir os programas de talentos musicais, por razões que já aqui expliquei: prioritariamente porque esses programas muito raramente conduzem a uma carreira musical, sabendo nós o estado em que está a venda de discos… Contam-se pelos dedos (de uma mão, diga-se) os que tiveram uma carreira resultante de um destes concursos – e digo carreira, não aquele disco que faz parte do prémio… Mas o programa “The Voice Portugal”, da RTP, podia não ter uma designação em inglês, o que convida a que os concorrentes cantem em inglês e (muito) pouco em português – ao menos o da RTP… Foi talvez por isso que, no domingo, me fascinou a actuação de Tomás Adrião. Não só por ter cantado em português, mas por ter interpretado “E Depois do Adeus” daquela maneira. Caramba! Sem esquecer Beatriz Felizardo, que cantou “Fala da Mulher Sozinha”, uma criação de Raquel Tavares. A precisar de mais garra, como frisou Mariza, mas em português. E para mim isso (também) conta.

HÁ DEZ ANOS ESCREVIA

«Muitos foram os espectadores que estranharam, dos dois lados do Atlântico, o facto de a novela “Prova de Amor” ter apresentado corpos seminus e diversas cenas mais apimentadas do que aquelas que tinham sido vistas, anteriormente, em produções da Record. Essa foi uma tentativa do canal para apagar a ideia de que a sua programação estava vinculada à Igreja Universal – o que não deixa de ser verdade. Mas, mais verdade ainda, parece ser o facto de os executivos que estão ligados à igreja não terem poder de veto…»

(Esta crónica, por desejo expresso do seu autor, não respeita o novo Acordo Ortográfico.)

Crónica publicada no Jornal de Sintra, edição de 24 de Novembro de 2017.

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