Semanário Regionalista Independente
Quinta-feira Abril 25th 2024

“BBC – As Crónicas de TV”

Ai como é linda a política em Portugal!!

Bernardo de Brito e Cunha

NÃO HÁ COMO os políticos (e os portugueses, ainda para mais!) para nos darem cabo de uma crónica… Com efeito e tirando a parte de Vítor Gaspar – o único que disse que ia embora e foi mesmo , tudo o resto que escrevi foi um fracasso. Nem Mota Soares ou Assunção Cristas apresentaram a demissão (limitaram-se a pôr os lugares à disposição do partido), como o irrevogável Portas afinal, não era tão irrecorrível assim, a recém-nomeada Ministra das Finanças lá continua no cargo e foi recebida na Europa com abraços e beijinhos, nem tão-pouco o Presidente da República nos veio falar uma noite destas… Irá fazê-lo um dia desta semana, já com esta crónica escrita mas, desta vez, não corro o risco de me enganar: se a Alemanha já deu o seu ámen a esta nova cambalhota política da dupla Coelho-Portas, não seria agora que Cavaco Silva se armaria em forte e lhes bateria o pé.

A MEMÓRIA DOS POVOS e dos jornalistas é, muitas vezes, curta. E isso convém a alguns. Convirá a Paulo Portas, por exemplo: como é que ele vai explicar aos familiares e descendentes, se os tiver, não que se demitiu para ficar, mas como o fácies se lhe modificou desde que era ministro dos Negócios Estrangeiros e adquiriu um novo, assim que passou a vice-Primeiro Ministro? Caramba, o homem deve ter crescido uma boa mão travessa, nestes dias de crise! Mas estas coisas tendem a passar para segundo plano, até porque uma televisão não pode andar todos os dias a mostrar a nova pose de Paulo Portas. Até porque, nos Estados Unidos, um avião aterrou um bocadinho antes de mais e, nos céus europeus, um outro não foi autorizado a aterrar, a não ser em Viena de Áustria.

PARECE-ME IGNÓBIL que um presidente de um país qualquer, não interessa para o caso qual é, viajando no avião presidencial – não o Air Force One de Obama, mas um pequeno Falcon, com muito menos autonomia – não possa aterrar onde mais convier ao aparelho em que se desloca. Não pode, apesar de haver leis internacionais que regem estas coisas das (in)diplomacias. O então ainda em exercício (ou já era ex?) ministro dos Negócios Estrangeiros, o agora mais impante Paulo Portas, foi questionado sobre o caso numa comissão do Parlamento. E disse o quê acerca do aviãozinho? Isto: que não se podia dar ao luxo de importar para Portugal um problema que não é do país. O “problema” tem nome, chama-se Edward Snowden (e os norte-americanos andam doidos para lhe deitar a mão e fazer algumas judiarias), e constou que estaria a bordo do Falcon sul-americano… Assim como Barroso foi a correr aos Açores para ficar (mal) na fotografia que antecedeu a guerra no Iraque, também agora Portas cumpriu as ordens dos patrões americanos. Deve ter sido esse dobrar de espinha que agora o obriga a pôr-se mais firme e hirto. Para disfarçar.

MAIS DUAS PEQUENAS COISAS. Primeiro, aquela coisa estranha que foi o Governo ter nomeado (ou indigitado, pelo menos) um gestor para a Caixa Geral de Depósitos. A estranheza não está aqui, mas no facto de o nome apontado, João Coutinho, ter recebido em 2004, uma indeminização quando saiu do banco público. João Coutinho deixou, assim, de fazer parte da lista avançada pelo Governo na terça-feira, referente aos novos órgãos que compõe o banco. Este recuo só nos mostra como o governo anda distraído.
O governo grego (também) é muito divertido. Durante uma emissão da rádio municipal de Atenas onde foi questionado sobre o reinício, durante esta semana, do sinal audiovisual interrompido em 11 de Junho, o ministro responsável pelo audiovisual, Pantelis Kapsis, respondeu: “Sim, trata-se de retransmissões de utilidade pública.” Segundo o jornal “Ta Nea”, o sinal da ERT poderá ser retomado na quarta-feira, mas… essencialmente para transmitir filmes, séries e documentários. Não há juízo, nas direitas europeias.

HÁ DEZ ANOS ESCREVIA
«Pois o resto, à boa maneira britânica, tem o seu folhetim diário no “Contra Informação”, programinha que foi buscar a sua inspiração exactamente a Inglaterra e ao seu congénere (e pai) “The Spitting Image”. Todos os dias ali temos uma destas histórias, envolva ela a Casa da Música, Felgueiras, ou o ministro Paulo Portas. Poder-se-ia duvidar da nossa capacidade de imitação perante uma coisa que está testada: quando assim acontece, quando importamos um formato, geralmente fazemo-lo à nossa dimensão, mais pobrezinho, mais triste, mais tudo. O “Contra” não. O “Contra” não deixa o seu progenitor envergonhado e honra quem o faz. O “Contra Informação” deve ser, neste momento televisivo, o único programa decente do panorama audiovisual português. Porque é bem feito, porque olha para dentro de nós todos e de forma descontraída, vai pondo o dedo nas diversas chagas que nos assolam.»
(Esta crónica, por desejo do seu autor, não respeita o novo Acordo Ortográfico.)

Crónica publicada no Jornal de Sintra, edição n.º 3989 d 12-7-2013

Leave a Reply

You must be logged in to post a comment.