Algumas alegrias e outras tristezas
Bernardo de Brito e Cunha
HOUVE DUAS FESTAS do futebol nesta semana que terminou. Foram ambas bonitas, uma mais grandiosa do que a outra, mas ambas em Lisboa: já não era sem tempo que duas Taças regressassem a Lisboa. A Taça da Liga, que foi disputada em Coimbra teve – apesar da sua importância mais reduzida face à outra, a de Portugal – maiores festejos do que a outra. Não admira, também: o Benfica, que é um dos maiores clubes do mundo, faz sempre maiores festas do que o Sporting, mas não é isso que conta para aqui. O que conta é dizer que não houve sombra de “festejos de entremeada” – se me é permitida a imagem – isto é, não houve, em nenhuma das festas, folguedos entremeados com alguma violência policial. E é assim que deveria sempre. Mas, por via das dúvidas, o melhor é manter o subcomissário Silva em Guimarães – mesmo agora que as competições já acabaram. E a propósito do senhor em causa: não era já tempo de se ter chegado a uma conclusão do inquérito?
JOSEPH BLATTER anunciou na última terça-feira que renunciava ao cargo de presidente da FIFA, tendo confirmado ainda que não será novamente candidato: “Não vou concorrer. Ficarei em posição de concentrar em reformas profundas”, afirmou, na hora da despedida, mas esta ameaça de se concentrar em reformas profundas não augura nada de bom. Nos últimos dias foi tornada pública uma investigação que envolvia altos quadros da FIFA, sendo que existiam fortes indícios de corrupção dentro da organização, nomeadamente no que diz respeito à organização de Mundiais. Não será grande extrapolação pensar que este facto estará relacionado com a decisão do suíço. Blatter referiu à imprensa que nenhum dos casos que tem vindo a público estava sob o seu controlo, como que afirmando que nada tinha que ver com as suspeitas de corrupção sobre a organização. O responsável máximo pelo organismo pediu ao Comité Executivo da FIFA para realizar um congresso extraordinário o mais rapidamente possível. Segundo estava a ser avançado, a nova eleição deverá ocorrer entre Dezembro deste ano e Março de 2016. Aposto que mais ninguém o verá: a esta hora, o homem já deve ir a caminho de um paraíso fiscal, levantar os cobres que ali o esperam. E o futebol que se lixe.
SEJAMOS SICEROS: a novela da SIC “Mar Salgado”, que está nos nossos serões desde Setembro e conquistou fãs completamente inesperados (não é, Rui?), merecia uma outra atenção por parte da estação. Não exactamente em relação à salinidade do mar de Setúbal (é mar ou é rio? Estou na dúvida…) mas em relação às expectativas criadas, isto é, em relação à sua sucessora. Mas a SIC, pela mão de Patricia Muller, decidiu ir por outro caminho. Que tinha (e tem ainda) “Mar Salgado” para captar um milhão e meio de espectadores por episódio? Uma coisa muito fácil (aparentemente): as suas características populares, as figuras da classe trabalhadora, as peixeiras da praça, as operárias de uma fábrica de conservas, os pequenos-grandes escândalos do bairro, em suma, aquilo com que lidamos todos os dias. E, logo em Setembro, não poderia ninguém ficar indiferente ao drama de Leonor e aos seus dois filhos (sniff!!) que lhe foram retirados na noite do parto – estas coisas passam-se sempre à noite, vá-se lá perceber porquê.
Mas a sucessora já começou a ser exibida. Lamentavelmente. É rigorosamente o oposto, nada de coisas populares: eles são Ataídes, mas dá logo vontade de escrever “Athaydes” porque são chiquérrimos, são o máximo – e, como actores, vão péssimos. Não me digam de quem é a direcção de actores, porque suspeito: mas tenho pena de ver ali gente como Maria João Luís, de quem tanto gostei em “Sol de Inverno”. Paciência: eu sei que o trabalho não abunda e as oportunidades agarram-se às mãos ambas, mesmo que a novela não prometa grande coisa. Mas lá que dá pena, dá.
HÁ DEZ ANOS ESCREVIA
«De vez em quando, a RTP tem uma ideia boa. Aconteceu exactamente com o comentário de Marcelo Rebelo de Sousa, que é um texto que não termina ali, aos domingos: aquele é um texto a que muitos gostarão de voltar, de ler, de pensar. Que fez a RTP – e que, repito, foi uma ideia boa? No seu site, em www.rtp.pt, criou um espaço onde é possível ler os comentários de Marcelo. Coisa boa, de interesse público, como competia à televisão pública. Então onde está o problema? Neste facto simples: há mais de um mês que os textos não estão disponíveis. Bem sei que o trabalho não é fácil, que é preciso ouvir, escrever, etc. Mas se não era fácil, se não havia quem fizesse esse trabalho, para que diabo foram prometer o que não cumprem? E mais: por que continuam a ter no site a indicação “Todas as semanas, leia o texto, veja o vídeo”? Só para depois terem de escrever ao lado “Texto indisponível”…»
(Esta crónica, por desejo expresso do seu autor, não respeita o novo Acordo Ortográfico.)
Crónica publicada no Jornal de Sintra, ed. 4074/75 de 5 de Junho de 2015.