Semanário Regionalista Independente
Terça-feira Abril 16th 2024

“BBC – As Crónicas de TV”


Sousa Tavares 1 – Moura Guedes 0

Bernardo de Brito e Cunha

Manuela Moura Guedes estreou-se no final do “Jornal da Noite” da última segunda, na SIC, Miguel Sousa Tavares interveio ao longo do “Jornal das 8”, da TVI, cuja edição faz questão de acompanhar – e já leva uma ou duas semanas de treino. Manuela (que se diz ser uma aposta pessoal de Rodrigo Guedes de Carvalho e de que se falava como “um modelo fora da caixa”) pareceu acusar estes anos de inactividade: onde antes havia assertividade, na segunda-feira houve hesitações e muito gaguejar. Falou nas eleições brasileiras: “Bolsonaro foi a grande surpresa destas eleições, pela votação massiva. Os brasileiros não votaram pelo fascismo, votaram contra os partidos que têm estado no poder (…) No Brasil a violência é mesmo violenta. Os brasileiros não querem o PP no poder, e Bolsonaro aparece agora como um candidato fora do sistema, que não é partidário, um salvador”, considerou a jornalista de 62 anos. Não sei se volto à SIC: pelo menos às segundas.

Miguel Sousa Tavares não escondeu a sua paixão pelo Brasil, que se mantém, e prevê que Bolsonaro venha a ser o novo presidente do Brasil, ganhando as eleições à segunda volta. O jornalista (parece que o voltou a ser) disse que era “um voto de desilusão, de desesperança e de medo”. Vê a votação dos brasileiros “quase como uma guerra civil em que só ficam os extremos”. Para sublinhar: “sendo um país profundamente desigual, é talvez o país mais malgovernado.” E Sousa Tavares teme um golpe de estado por parte dos militares.

Da actualidade no Brasil à alegada violação de Cristiano Ronaldo nos Estados Unidos em 2009. Manuela Moura Guedes referiu-se ao caso como “complicado” e realçou o perigo do movimento #MeToo. “Toda a gente em Portugal deseja a absolvição de Cristiano Ronaldo, que continua a ser o herói de todos. Mas neste caso não pode contar como herói, é uma pessoa como as outras. E quando alguém diz que não, é não! Por outro lado, este movimento do #MeToo tem um lado muito desagradável, porque todos os alvos são pessoas conhecidas. Começa logo um estigma e um julgamento popular, e Cristiano Ronaldo já começa a sofrer com isso, já começa a ser julgado”, frisou, acerca da acusação de Kathryn Mayorga ao futebolista internacional português.
Já Miguel Sousa Tavares discordou das atitudes de Cristiano Ronaldo e de Kathryn Mayorga, mas considerou que esse não é o cerne da questão. “Cavalgando o movimento #MeToo, agora resolveu [Kathryn] que os 375 mil dólares não chegam… É disso que se trata, é assim que vejo os factos.”

Se a antiga apresentadora defendeu CR7, atacou… o ministro da defesa, a propósito do roubo de material em Tancos no ano passado. “Azeredo Lopes, desde o princípio do roubo de Tancos, nada sabe. Um ministro não tem que saber tudo, mas tem que assumir a responsabilidade por casos graves como este. Não acredito que o ministro, o primeiro-ministro e o Presidente da República não soubessem. Acho que o Chefe do Estado-Maior do Exército também se devia demitir. Azeredo Lopes devia poupar-se a esta vergonha, não sei o que ele considera responsabilidade política, que assumiu,” mas não sabe o que isso significa, vincou.

Por fim, Manuela Moura Guedes comentou a não renovação do mandato de Joana Marques Vidal enquanto Procuradora Geral da República e as declarações sobre a cessão de funções da magistrada por parte de António Costa, que disse que Marques Vidal era “mesmo uma pessoa feliz por ser a primeira que cessa funções, não manchando o seu mandato com críticas, mas só com elogios”. “Vimos como ela estava feliz quando soube, já com o mandato quase a terminar. O primeiro-ministro fala nos elogios, mas toda a gente a elogiou menos ele. O Presidente da República foi a pessoa que mais mal se portou neste processo”, atirou, visando igualmente Marcelo Rebelo de Sousa.

Miguel Sousa Tavares terminou o comentário recordando e elogiando Saramago e as homenagens que lhe têm sido feitas, “pela dimensão da sua obra”. Sublinhando: “É inestimável o que devemos a Saramago pelo Nobel da Literatura, é um grande artífice da língua portuguesa, um operário da palavra”. Acabou o “Jornal das 8” a ler um poema do brasileiro Carlos Drummond de Andrade, “Congresso internacional do medo”. Uma forma de aviso para o que aí poderá vir…

HÁ DEZ ANOS ESCREVIA

«Embora “Zé Carlos”, dos Gato Fedorento, se trate de um programa humorístico, o bando dos quatro constitui a oposição mais credível com que podemos contar, não só contra o governo, mas também contra a oposição de uma maneira geral. José Sócrates é uma espécie de bombo da festa permanente? É, de facto, e voltou a sê-lo com (mais) uma apresentação pública do computador Magalhães. Mas também não escapa Manuela Ferreira Leite e os seus silêncios, que exigem a presença do campeão português de Pictionary para os decifrar…»

(Esta crónica, por desejo expresso do seu autor, não respeita o novo Acordo Ortográfico.)

Crónica publicada no Jornal de Sintra, ed. 4229 de 12 de outubro de 2018

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