Semanário Regionalista Independente
Domingo Novembro 16th 2025

“BBC – As Crónicas de TV”

Palhaçadas

Bernardo de Brito e Cunha

CONVENHAMOS que é pena não haver um top dos momentos mais vistos na televisão. É uma injustiça, isto de só se alinharem programas e alguns momentos, hilariantes ou trágicos, não constam em lado nenhum. O que vale é que a História da Televisão e mais as bobinas, os discos rígidos e a Internet, não deixarão morrer esses momentos. E daqui a anos, alguém há-de desenterrar esses “tesourinhos”, deprimentes ou hilariantes, e voltar a dar-lhes essa característica que é a imortalidade. Alto, que me deixei entusiasmar com o palavreado: porque tenho sérias dúvidas de que os momentos protagonizados pelo ministro da Economia Pires de Lima venham a atingir a imortalidade. O ministro, certamente recordando os seus tempos à frente da Unicer de Leça do Balio, produtora de uma das melhores cervejas fabricadas em Portugal, disse coisas que seriam perfeitamente normais num membro do governo, não fosse a voz entaramelada. Suponho que o problema terá sido do bar do Parlamento, onde se terão acabado os pastelinhos de bacalhau – e vai daí terão sido mais dois copinhos de branco…

JULGO QUE ISTO é mal que ataca os ministros da Economia. Já o ministro Manuel Pinho, nos idos de 2009, tinha feito um gesto com dois dedos na direcção do actual presidente da Câmara de Loures, Bernardino Soares. O único problema foi terem sido apanhados pelas câmaras que acompanham os trabalhos no Parlamento. Mas houve diferenças entre os dois casos: Manuel Pinho, ministro de Sócrates, foi demitido no próprio dia. Quanto a Pires de Lima, ministro de Passos Coelho, continua por aí. Parece-me haver uma diferença de carácter: espero, ao menos, que Passos tenha cortado as senhas do bar a Pires de Lima. E enquanto o ministro continua em funções, não param de crescer as graçolas e piadas, o que é lamentável para qualquer governo. E o mina, ainda mais. A que eu prefiro é aquela que diz “Se Parlamentarizar, não beba”. E sugiro que se destaque um elemento da Brigada de Trânsito (e respectivo balão) de cada vez que Pires de Lima se preparar para falar.

FIQUEI SATISFEITO por Miguel Guedes ter, finalmente, abandonado o programa da RTP Informação “Trio d’Ataque”, o programa que domingo à noite, analisa os jogos da Liga de Futebol. O contentamento vem de dois lados: para começar, porque Miguel Guedes era, no trio, aquele que defendia o FC Porto – e, na minha opinião, nem sempre o fez com imparcialidade. Pelo contrário: o clubismo sobrepôs-se, tantas vezes, à pessoa inteligente que, bastas vezes, deu provas de ser. O seu substituto é António Oliveira, homem conhecido do futebol e que, até agora, tem tido outra posição em relação ao seu clube, mais isenta e honesta. Mas há uma segunda razão, e essa parece-me mais grave e entronca numa frase muito usada no programa: “honestidade intelectual”. Acontece que o programa da SIC “Factor X” passou a ter, desde que se reiniciou, há uns dois meses, quatro membros do júri. Os três são os do costume e o quarto passou a ser… Miguel Guedes. A primeira fase do programa, feito com audições gravadas, permitiu a Miguel Guedes estar na SIC aos domingos e na RTP-I aos… domingos, também. Não me parece bem, trabalhar para a televisão pública e, ao mesmo tempo, ir fazer uma perninha a uma estação privada. Claro que quando as galas começaram a ser em directo, este pseudo dom da ubiquidade chegou ao fim. Mas não achei bonito – embora saiba que os empregos estão pela hora da morte…

HÁ DEZ ANOS ESCREVIA

«Há já algum tempo que me parece que anda um surto de desvario de programação lá pelas bandas da SIC. A coisa revelou-se, naturalmente, com a perda de lideranças pela estação, desde que a concorrente TVI pôs no ar esse produto de grande qualidade que dá pelo nome de “Quinta das Celebridades”. A bem dizer, está a acontecer novamente aquilo que se passou há uns anos atrás, quando a SIC – ainda, na altura, liderada por Rangel – recusou a oferta por parte da Endemol do programa “Big Brother” e depois se viu a braços com uma crise que originou uma reacção semelhante – e que viria a culminar com essa catástrofe que se chamou “O Bar da TV” e, um pouco mais tarde, com a saída do próprio Rangel.»

(Esta crónica, por desejo expresso do seu autor, não respeita o novo Acordo Ortográfico.)

Crónica publicada no Jornal de Sintra, ed. 4048/49 de 14 de Novembro de 2014.

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