Semanário Regionalista Independente
Quinta-feira Março 28th 2024

“BBC – As Crónicas de TV”

A culpa é do Salvador – e da Luísa

Bernardo de Brito e Cunha

Vamos ao Festival da Canção. Fiquei com a sensação de que tanto os compositores das muitas canções (com excepção de umas três ou quatro), como o júri e como o público em casa, que tinha uma palavra a dizer, andou a vasculhar todas aquelas músicas à procura de uma coisa a que chamarei, por agora, “Factor Amar pelos Dois II”. Isto é: depois de Luísa e Salvador Sobral terem mostrado que era possível ganhar o Festival da Eurovisão (e primeiro o da Canção, naturalmente) com uma melodia simples mas bem feita, sem artifícios e outros fogos em palco, deu-me a ideia de que procuravam uma coisa semelhante, com excepção das tais três ou quatro que já referi.

E se surgiram cançõezinhas aos magotes, meu Deus! O grande problema é que o ano passado eu fiquei com o refrão da canção de Luísa e Salvador Sobral no ouvido, momentos depois de a ter ouvido: e em relação a este ano… nem de uma – excluindo um excerto da canção escrita por Fernando Tordo e que Anabela interpretou magnificamente. Pena que tenham sido os dois atropelados pelas votações. Porque não esqueçamos isto: uma canção com melodia e com ritmo, como são as de Anabela e aquela que dá pelo título de “Patati Patata”, têm a alegria do ritmo a seu favor e esse é um factor que não é despiciendo.

O problema com quem, de uma maneira ou outra, jurados ou público em casa, teve o papel de votar é que me parece ter querido repetir a receita do ano passado, aquilo a que chamei acima “Factor Amar pelos Dois II”, sem levar em linha de conta que a maioria das canções que lhes pareceram seguir as pisadas de “Amar pelos Dois” não tinham nada, mas nada mesmo, a ver com a canção de Luísa e Salvador Sobral. E vamos levar (ia a escrever “lá fora”, meio esquecido ou levado pelo hábito de o festival ser sempre no estrangeiro…) à Eurovisão uma canção tristinha, talvez com um poema bonitinho, mas um pouco século XIX…

Não falei da canção “Sem Medo”, da autoria de Jorge Palma e interpretada por Rui David e por uma razão: era uma canção tão Jorge Palma, tão Jorge Palma, e Rui David cantou-a tanto como se ele próprio fosse o Jorge Palma que, às tantas, receei estar na presença de um plágio. E desse fantasmas já tivemos o bastante.

E agora, que se passaram cinco anos, alguém se lembra que a jornalista da TVI Ana Leal (que tem assinado trabalhos de investigação importantes) teve um processo disciplinar na estação, ao que constou por acção directa de Judite de Sousa? Mas, mais importante ainda, alguém se lembra porquê? Uma pista, então: na base do processo está um pedido de esclarecimentos enviado por Ana Leal ao director de Informação, José Alberto Carvalho, e ao Conselho de Redacção da TVI acerca de uma peça jornalística que deveria ter sido emitida no “Jornal das 8” de 26 de Janeiro, mas que acabou por não ser transmitida nesse dia. A peça só foi emitida no dia seguinte, no canal de informação TVI24, no espaço informativo da meia-noite, “25ª Hora”. Nada? Caramba! Pois não seria difícil: a reportagem era sobre o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP), que tanto daria que falar durante os incêndios do Verão passado… O que vem provar que, ao contrário do que consta, Judite de Sousa não é bruxa: porque se o fosse, de certezinha que teria passado a reportagem.

HÁ DEZ ANOS ESCREVIA

«Que tivemos então na última segunda-feira assim de tão complicado? Por um lado, a decisão das famílias das vítimas do acidente da ponte Hintze Ribeiro, de Entre-os-Rios, de desistirem das indemnizações que a Provedoria de Justiça fixara em 19 de Março de 2001 em 10 mil contos. Desistiram dela por uma razão: o facto de, ao fim de sete anos passados sobre o acidente, ainda não terem sido encontrados culpados – apesar de o Governo da altura ter garantido que (é um chavão) “a culpa não morrerá solteira” – mas provocou, pelo menos, viúvos e órfãos. O caso foi a julgamento, na verdade: mas no banco dos réus não estiveram nunca os grandes responsáveis. A 9 de Outubro do mesmo ano, a Comissão Parlamentar de inquérito ao acidente de Entre-os-Rios conclui que a causa directa da queda da ponte foi “a descida do leito do rio na zona do quarto pilar”, relacionada com as “actividades de extracção de inertes do leito do rio”.»

(Esta crónica, por desejo expresso do seu autor, não respeita o novo Acordo Ortográfico.)

Crónica publicada no Jornal de Sintra, edição n.º 4203 de 9 de Março de 2018

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