Tive saudades de Candice Renoir
Bernardo de Brito e Cunha
Atrevo-me a dizer que serão muito poucos os que não conhecem Vasco Palmeirim: comediante, apresentador de televisão, radialista. E quase me atrevia a dizer que é nesta última qualidade (mau grado a projecção que dá qualquer programazinho de TV que passe no pequeno ecrã dos televisores que, de resto, são cada vez menos pequenos…) que Vasco Palmeirim conseguiu grande fatia do seu lançamento e fama. E como aconteceu isto? Porque tinha um programa de rádio de grande sucesso? Não exactamente: o que Vasco Palmeirim se limitou a fazer (muitas vezes com a cumplicidade dos seus companheiros de programa) foi apenas – será apenas a palavra certa? – um pequeno truque. Dado os diversos casos políticos e de outra natureza em que este país é, como dizia Camilo de Oliveira, “um colosso”, Vasco pegava numa música que fosse conhecida pela maioria dos ouvintes e aplicava-lhe versos à medida da situação em causa. Isto, obviamente, não era suficiente para tal sucesso: foi necessário, na matéria dos versos, acrescentar-lhe o humor.
E é isso que ele faz – ou arranja espaço para fazer – no programa de televisão que neste momento acontece nas noites da RTP1, o Joker. Ainda na última segunda-feira, nesse programa, fez um trocadilho gastronómico de onde surgiu, imagine-se, o pastel de… NATO. O seu humor, no entanto, atravessa todo o programa, o que contribui largamente para colocar os concorrentes completamente à vontade – embora isso não seja garantia absoluta de fazer desaparecer o nervoso miudinho de que eles são, naturalmente, possuídos. Mas Vasco, com jeitinho, lá vai acalmando as coisas. Na medida do possível, que milagres não se fazem assim na televisão. Teve graça, também, o Super Joker que acompanhou a concorrente dessa emissão, o irmão. Que a certa altura se voltou para Vasco Palmeirim e lhe disse: “Isto é muito melhor do que ver em casa.” E Palmeirim espantou-se: “A sério?” “A sério,” respondeu o jovem. “Em casa ninguém me bate palmas!”
Candice Renoir, a série policial francesa de que já falei aqui muitas vezes, regressou ao canal da TV por cabo AXN para uma temporada que se vai centrar na amnésia de Antoine, resultante da operação ao cérebro, e também na chegada de uma nova recruta. Esta temporada da série foi recheada de surpresas em França, por imposição do covid-19 e do consequente confinamento. O que se passou foi que assim que foi exibido o quarto episódio, no dia 1 de Maio, a transmissão da série parou, uma vez que a cadeia de televisão que a exibia não conseguiu retirar da pós-produção os restantes episódios, devido à epidemia e às medidas de confinamento. Na altura em que vos escrevo a France 2 previa exibir os seis episódios em falta mais para o Outono. Veremos o que vai acontecer, esperando que não tenhamos de ver esta temporada aos bocadinhos, como aconteceu em França.
A amnésia de Antoine, que não se recorda de todo do seu grande amor, serviu para revermos a história dos dois e os casos que resolveram: foi o colocar de um pouco de pimenta e apresentar uma boa dose de nostalgia. Mas a partir daqui a série vai centrar-se mais do que nunca no aspecto policial. Convém recordar que a série passa no AXN, às quintas-feiras, por volta das 22 horas. As saudades que eu tinha de Candice!
HÁ DEZ ANOS ESCREVIA
«Sugeri que a RTP devia voltar a pôr no ar um concurso que já tivesse provas dadas e parece ter dado resultado. Referi, nessa altura, o “Quem Quer Ser Milionário?” e a RTP fez-me a vontade, embora numa versão com algumas diferenças. A apresentá-lo está José Carlos Malato que, logo na primeira emissão, e perante a pergunta “O filme ‘Vicky Cristina Barcelona’ passa-se em que cidade?”, manteve uma conversa animada com o concorrente, sobre cinema espanhol e Pedro Almodóvar em particular. Acontece, no entanto, e isso nunca foi referido, que 1) o filme não é espanhol; 2) que não foi realizado por Pedro Almodóvar; e, finalmente, 3) que talvez tivesse feito falta que se tivesse referido, naquela conversa expansiva sobre cinema que o referido filme era da autoria de Woody Allen.»
(Esta crónica, por desejo expresso do seu autor, não respeita o novo Acordo Ortográfico.)
Crónica publicada no Jornal de Sintra, ed. 4305 de 17 de julho de 2020